sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Malandros de Zé Pilintra


A linha dos Malandros é uma das mais novas na Umbanda, portanto também frequentemente não é entendida ou até mesmo cultuada.
Para falar de Malandros, precisamos primeiro falar de Zé Pilintra. A entidade que representa a ponta dessa linha.
Zé Pilintra é um ponto de intersecção entre a direita e a esquerda. Por isso em muitos lugares ele aparece em giras de Exu, giras de baianos, juremas como mestre e principalmente em giras de Malandros, que é a que ele lidera.
A versatilidade da energia de Zé Pilintra é de ponto muito importante para a firmeza dos trabalhos de Umbanda. Colocar Zé Pilintra na porta de um terreiro, garante que o mesmo proteja a sua entrada do que conseguiu passar pela tronqueira.
Também por estar em ambos os lados e representar a “malandragem”, Zé Pilintra não deve ser nunca afirmado dentro de casa.
Como é considerado um mestre, Zé Pilintra (e também seus malandros) costumam se mostrar com diversas qualidades, como médico, advogado, professor e várias outras variações da palavra “doutor”. E é praticamente impossível você ver um Zé Pilintra em um terreiro, e conseguir se encontrar com o mesmo em outro de um médium diferente, como as vezes acontece com Exus, Pomba Giras, Caboclos etc.


Malandros

Os malandros de Zé Pilintra, ou companheiros como ele mesmo gosta de se referir são entidades geralmente muito receptivas, falam muito bem, convencem as pessoas do caminho que elas precisam seguir com muita naturalidade sem ter que se alterar ou colocar medo nelas.
 Enfim, são malandros! 



Na linha de malandros se manifestam além de Zé Pilintra e seus parceiros, as malandras que podem ser mulheres com características similares às Pomba Giras (pois tratam-se de mulheres que foram aliciadas pelos malandros ou pelo próprio Zé Pilintra), e até mesmo mulheres com trejeitos masculinos que se identificam sim com homossexuais.


A linha dos malandros é a que mais zela pela diversidade dentro da Umbanda, por isso permite a manifestação de entidades dessas diferentes qualidades. E essas geralmente mostram a que vieram com muita sabedoria, disciplina e força para ajudar aos que procuram.
Além de Zé Pilintra, na linha dos malandros os mais comuns a se manifestarem são: Malandro Miguel, Mané Soares, Maria Navalha, Maria Navalhada, Zé Pretinho, Zé do Poste, Zé da Esquina, Zé do Boteco, Zé do Carteado, Zé do Cais, Malandro do Morro, Malandro da Lapa, dentre vários outros.


Agrados aos Malandros

Na gira de malandros, eles gostam de ser agradados com petiscos que lembram um ambiente de bar, cerveja, whisky, aguardente e cigarro ou piteira (há alguns que gostem de charuto).
Malandros não recebem como oferendas nenhum bicho. Apenas farofas com pimentas vermelhas enfeitadas com objetos como cartas de baralho, bolas de sinuca, dados, olhos de cabra, navalhas e moedas. 


Sempre muito cantantes e dançantes, os malandros nunca tornam o ambiente desanimado ou mórbido.


A vela que se utiliza para os malandros é a vermelha e branca e por serem a intersecção entre esquerda e direita, se coloca um copo de água e um de aguardente para afirma-los.


Pontos Riscados

Em seus pontos riscados, muitas vezes para os leigos confundidos com pontos de Exu ou Pomba Gira, os malandros não deixam de colocar símbolos como navalhas, cruzes, cartas, garfos (na grande maioria com cabos curvos), setas (semelhantes às flechas) para cima (atacando) ou para baixo (defendendo), dados de jogos e a lua.  


               

O que pedir aos Malandros

Muito indicados para nos tirarem de situações de risco e nos ajudar a falar quando não temos argumento, e principalmente nos darmos bem nas situações de conflito ou disputa.
Quem tem seu malandro fortalecido, não precisa se preocupar com pessoas tentando lhe passar a perna, pois antes mesmo que tentem, ele vai mostrar ou até mesmo afastar o inimigo.



O mais importante se frisar o tempo todo, é que apesar do nome e do "estigma” que envolve os malandros. Trata-se de uma linha de trabalho com falanges poderosíssimas e hoje indispensáveis na Umbanda como um todo. 
Portanto só temos a ganhar entendendo, respeitando e cultuando os malandros.


Saravá a Malandragem! 


terça-feira, 1 de agosto de 2017

Caboclos

Por Pai Everton D’Oxossi


Os Caboclos são entidades de luz que representam os índios brasileiros que passaram pelo processo de colonização do país.
Dotados de sabedoria extrema e dons de cura e limpeza espiritual, os caboclos são geralmente colocados em posição de guias chefes e dirigentes dos terreiros de Umbanda.
Essa posição se dá também porque a primeira entidade de Umbanda que se manifestou em um médium, fundando assim a religião, foi um caboclo. O Caboclo Sete Encruzilhadas, que veio por meio do médium Zélio Morais. Portanto é muito comum encontrarmos casas (que como a nossa) levam o nome do caboclo ou cabocla dirigente. Motivo também que na saída de santo do médium, tiramos o Caboclo da camarinha além do Orixá. Geralmente coroando ele com o seu cocar.

Brados
A grande maioria dos caboclos ao serem invocados, se apresentam com brados característicos de suas aldeias. Brados estes, que são tanto para anunciar sua presença quanto de espantar espíritos mal-intencionados do lugar em que chegam. Esses brados não são imperceptíveis, mas também não há necessidade do caboclo de estourar as cordas vocais do médium para mostrar que está chegando. Embora seja comum ao desincorporar de um caboclo o médium apresentar uma certa rouquidão, isso não será pela intensidade dos brados e sim pela quantidade de vezes que o mesmo bradou. Esse é um ponto de atenção para os Zeladores que estão doutrinando seus médiuns na incorporação dos caboclos.

Fala e Postura dos Caboclos
Os caboclos falam de maneira meio enrolada, uns mais outros menos. Isso se dá devido ao grau de instrução, desenvolvimento espiritual (que evolui juntamente com o desenvolvimento do médium) e frequência que trabalha.
Tanto a fala quanto a quantidade de cores que os caboclos escolhem usar diz respeito ao contato que tiveram com o homem branco em vida. Vida essa que na grande maioria omitem detalhes por serem guias de movimento e só olharem para a frente.
São entidades simples, que zelam pelo minimalismo (só não mais que os Pretos Velhos), e dão valor às pequenas coisas e gestos, nos ensinando assim a dar o mesmo valor. Não se colocam como superiores de nada nem ninguém, mas também não abaixam a cabeça, por serem uma linha muito iluminada e terem por si só o senso de que esse gesto caracteriza submissão e muitas vezes vergonha.

Adeptos na grande maioria à cor verde, por representar as matas. Mas é possível e até comum encontrar os que trabalhem com marrom, branco ou até outra cor que não seja o preto.



Grupos e Falanges
Dividimos os caboclos em dois grupos e dentro desses dois grupos as suas falanges.
Os grupos são:

Grupo
Quantidade de cores
Especificação
Caboclos de Mata Virgem
1 cor
Índios que não tiveram contato nenhum com o homem branco. Em incorporação demoram mais para se comunicar de forma clara
Caboclos da Mata
2 cores ou mais
Índios que tiveram contato com o homem branco. Apresentam mais facilidade para se comunicarem e aceitarem as coisas do mundo moderno

As falanges são as dos Orixás, e dentro delas encontramos os seguintes caboclos que não necessariamente o médium precisa ser filho de cabeça do Orixá para trabalhar com o caboclo:
Falange dos Caboclos de Ogum
Águia Branca, Águia Dourada, Águia Solitária, Araribóia, Beira-Mar, Caboclo da Mata, Icaraí, Caiçaras Guaraci, Ipojucan, Itapoã, Jaguaré, Rompe-mato, Rompe-nuvem, Sete Matas, Sete Ondas, Tamoio, Tabajara, Tupuruplata, Ubirajara, Rompe-Ferro, Rompe-Aço
Falange dos Caboclos de Xangô
Araúna, Cajá, Caramuru, Cobra Coral, Caboclo do Sol, Girassol, Guaraná, Guará, Goitacaz, Jupará, Janguar, Rompe-Serra, Sete Caminhos, Sete Cachoeiras, Sete Montanhas, Sete Estrelas, Sete Luas, Tupi, Treme-Terra, Sultão das Matas, Cachoeirinha, Mirim, Urubatão da Guia, Urubatão, Ubiratan, Cholapur.
Falange dos Caboclos de Oxóssi
Caboclo da Lua, Arruda, Aimoré, Boiadeiro, Ubá, Caçador, Arapuí, Japiassu, Junco Verde, Javari, Mata Virgem, Rompe-folha, Rei da Mata, Guarani, Sete Flechas, Flecheiro, Folha Verde, Tupinambá, Tupaíba, Tupiara, Tapuia, Serra Azul, Paraguassu, Sete Encruzilhadas, e todos os de Penas (Branca, Azul, Dourada, Verde, Vermelha, Roxa)
Falange dos Caboclos de Omulu
Arranca-Toco, Acuré, Aimbiré, Bugre, Guiné, Gira-Mundo, Iucatan, Jupuri, Uiratan, Alho-d’água, Pedra Branca, Pedra Preta, Laçador, Roxo, Grajaúna, Bacuí, Piraí, Suri, Serra Verde, Serra Negra, Tira-teima, Seta-Águias, Tibiriçá, Vira-Mundo, Ventania.
Falange das Caboclas de Iansã
Bartira, Jussara, Jurema, Japotira, Maíra, Ivotice, Valquíria, Raio de Luz, Palina, Poti, Talina, Potira
Falange das Caboclas de Iemanjá
Diloé, Cabocla da Praia, Estrela d’Alva, Guaraciaba, Janaína, Jandira, Jacira, Jaci, Sete Ondas, Sol Nascente
Falange das Caboclas de Oxum
Iracema, Imaiá Jaceguaia, Juruema, Juruena, Jupira, Jandaia, Araguaia, Estrela da Manhã, Tunué, Mirini, Suê
Falange das Caboclas de Nanã
Assucena, Inaíra, Juçanã, Janira, Juraci, Jutira, Luana, Muraquitan, Sumarajé, Xista, Paraquassu
*Assim como mulheres podem incorporar caboclos, homens podem muito bem incorporar caboclas sem a menor distinção ou significado aprofundado. Nem mesmo baseando-se em orientação sexual do médium, tendo em vista que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Mesmo porque os caboclos são entidades que não trabalham na sensualidade nem muito menos na vida sexual do médium.

Trato nos cultos e Oferendas dos Caboclos:
Os caboclos, como dito anteriormente, são minimalistas e prezam pela simplicidade. O mais enfeitado que você deverá encontrar um caboclo, é com penas, e em giras específicas (geralmente festas) os que são adeptos manuseiam o urucum para pintar seus rostos. Isso por questões obvias, por se tratar de índios.
Caboclos gostam de fruta, e na grande maioria vão comer ela com casca. Tudo que é natural!
Gostam de beber vinho ou cerveja (sem distinção de quente ou fria) por terem sido apresentados a essas bebidas pelos colonizadores, sucos naturais sem açúcar ou adição de absolutamente nada, e água.
Fumam charutos ou cachimbos (contanto que estes sejam o mais simples possível – preferencialmente os de madeira lascada) com fumo de plantas. Pisam no chão independente da ocasião, comem com a mão e não fazem questão nenhuma de luxo.
Portanto se nos depararmos com um caboclo que não aceita trabalhar porque no terreiro não temos determinada coisa por falta de recursos, certamente estaremos lidando com o ego do médium e não da entidade em si. Partindo do princípio que a natureza se adapta, sempre há algo para substituir o vinho que possa estar faltando ou a vela verde que não foi possível comprar.

Elementos e Vibração
Temos também os elementos dos caboclos que nos ajudam a entender o foco vibratório de cada um. Isso geralmente já se identifica pelos nomes que eles se apresentam, mas há exceções à regra.
Dentre esses elementos podemos entender o seguinte:

Elemento
Vibração
Pena
Caboclos que tem facilidade de ensinar doutrinas para médiuns e outros caboclos em desenvolvimento. São os que geralmente sentam e dão uma aula sempre que chegam
Flecha
Caboclos que trabalham direcionando os que procuram através de conhecimento. Geralmente esses caboclos contam histórias e fazem associações que ajudam as pessoas a identificarem o que precisam melhorar
Folha
Caboclos que atuam na cura e limpeza
Pemba
Caboclos que atuam em questões de harmonia e ajudam as pessoas a ampliarem suas mentes e deixarem de se limitar
Pedra
Cabloclos que lutam por justiça e não gostam de nada fora do lugar. Geralmente são entidades muito conservadoras
O mesmo caboclo pode vibrar com mais de um elemento, consequentemente apresentar características de ambos


 Linhas Paralelas de Caboclos:
Existem também linhas paralelas de caboclos que se subdividem e em algumas casas são cultuadas em giras específicas, já fora das giras dos caboclos das falanges citados acima.
Dentre essas linhas temos:
Caboclinhos da Ibeijada ou Curumins
Nesta encantadora linha, encontramos os Caboclinhos e Caboclinhas do Mato que se manifestam em sua forma indígena.
Pajés ou Caboclos Feiticeiros
Linha dos índios mais idosos e experientes. Por muito tempo confundidos com Pretos Velhos por geralmente apresentarem estrutura corporal de um idoso. Baseado na função dos pajés nas aldeias indígenas, essa linha trabalha proporcionando as curas através de operações espirituais, e orientações de uso de ervas medicinais para a saúde dos que a procuram.
Caboclos D’Água ou Caboclos da Praia
Caboclos que representam os primeiros Índios que tiveram contato com o homem branco e trabalham nos mistérios das águas. Esses caboclos geralmente não passam muito tempo incorporados e têm muito mais dificuldade de se comunicar do que qualquer outro. Sua chegada e partida breves acontece pois geralmente esses caboclos só aparecem para absorver alguma energia negativa que tenha ficado no ambiente e leva-la embora.  

                                                                  OKÊ CABOCLO! 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A Mediunidade e as modificações no corpo



Sabemos que todas as casas têm suas regras, e que se há uma em que o senso é comum dentre os terreiros de Umbanda, é a da vestimenta adequada para os cultos. Tanto para médiuns quanto para consulentes. Por isso é de extrema importância que ninguém se dirija a um culto de Umbanda com roupas inadequadas, ou seja, roupas mostrando ou destacando partes do corpo. Quando se trata de médiuns em desenvolvimento ou já com cargos atribuídos por deitadas e obrigações de santo, temos outras particularidades que devem ser seguidas, do contrário estes podem perder força, radiação e até mesmo sentirem mal-estar caso não sigam. Isso falando de modificações no corpo, como tatuagens, piercings, cortes e aplicação de química nos cabelos, cirurgias plásticas etc.
 Umbanda é uma religião que preza muito pela liberdade dos que a seguem. Mas até dentro da liberdade precisamos tomar certos cuidados e seguir determinadas regras, para não errarmos de forma inconsciente.
 Quando se fala de tatuagens, não há problema nenhum no médium que goste, se encher delas. Contanto que tenha o cuidado de não cobrir seus chacras (a menos que tenha autorização de um guia chefe), e suas catulagens (ou curas como se chamam em alguns terreiros). Temos como chacras principais que envolvem a nossa força mediúnica, por serem os canais de entrada e saída de energias os seguintes: 















Cobrir ou modificar qualquer um desses chacras sem permissão do Orixá acarretará nas seguintes perdas:

Chacra
Perda
Chacra Coronário
Disfunção de ideias
Chacra Frontal
Disfunção intelectual – dificuldade de relacionar com o próximo
Chacra Laríngeo
Dificuldade de comunicação/ expressar ideias
Chacra Cardíaco
Dificuldade em amar e sentir-se amado
Chacra Gástrico
Perda de disposição e força vital
Chacra Esplênico
Queda de ego e libido
Chacra Básico
Reduz a autoconfiança, aumenta extinto violento

Além dos chacras, temos também as Catulagens ou Curas que são os pontos geralmente feitos pelos Guias Chefes em seus médiuns para diversos fins, que não cabe abrir nesse texto por questões ritualísticas e particularidades de cada casa. Mas são basicamente os pontos de força em que o médium vai transmitir e absorver energias durante um trabalho. Catulagens podem ser feitas em cima de chacras também, mas outros pontos comuns em que elas são abertas são:

• Palmas e costas das mãos
• Nuca
• Pulsos 
• Ombros (frontal e costas e lateral)
• Peitos e solas dos pés 
• Meio das costas

 Esses são os pontos em que o médium deve sempre ter cautela antes de perfurar, pintar ou modificar no corpo. Falando em modificar, algumas pessoas por necessidade de corrigir algo ou simplesmente se ver mais bonitas, iniciam o processo de alteração do corpo através de cirurgias plásticas. Como dito anteriormente, Umbanda preza pela liberdade. Mas o ideal é sempre se consultar com uma entidade de linha de curas antes de se submeter a qualquer um desses procedimentos, até para sentir se é a escolha certa. Visto que em alguns casos as pessoas seguem por esse caminho para agradar aos outros e não a si mesmas. Mesma situação para química nos cabelos. Em especial os cabelos das Filhas de Iemanjá.
 Sabe-se que a força de uma filha de Iemanjá se concentra na sua maioria em seus cabelos. Quando o cabelo de uma filha de Iemanjá está desarrumado ou mal cuidado, certamente você vai ter que lidar com o mau humor dela.
 Homens também podem passar pelo mesmo processo, mas na maioria absoluta dos casos, acontece com as mulheres.
 Isso não acontece à toa. O cabelo da filha de Iemanjá pertence mais ao Orixá do que a ela própria. Sendo assim, qualquer modificação que seja feita, precisa do aval da mãe da cabeça até para que a filha se sinta satisfeita com o cabelo e não sinta uma vontade infinita de mudar.
 É preciso tomar muito cuidado para não cortar os cabelos com mulheres em período de menstruação. Esse cuidado na escolha do profissional, também deve ser seguido na aplicação de tatuagens e piercings. Não se deve entregar o seu corpo para ser modificado nas mãos de qualquer um. Essa pessoa pode transmitir energias negativas para você ao perfurar o seu corpo e ter contato direto com seu sangue. Energias que podem levar tempo para serem identificadas (geralmente só serão quando o médium estiver passando por situações difíceis). Por mais difícil que seja, o ideal é sempre buscar pessoas que pelo menos se simpatizem com a religião, para que não vejam problema caso seu guia chefe te oriente a pedir para ela passar alfazema nas mãos antes de mexer em você por exemplo, ou qualquer outra coisa do tipo, que possa ser orientada para que não haja troca de fluídos entre o profissional e o médium.
 Há luas específicas que se aconselha cortar os cabelos para se atingir resultados com o mesmo. E principalmente, é de praxe guardar esses cabelos e entregar eles para a mãe Iemanjá em forma de oferenda, como for determinado pelo seu culto.
 Ignorar essa orientação, por muitas vezes pode ocasionar quedas bruscas do cabelo, ou até problemas na pele do couro cabeludo. Facilmente evitados, se as instruções básicas forem seguidas. E dificilmente tratados por medicina.
 Portanto antes de fazer qualquer uma dessas modificações, entenda as regras da sua casa de santo, e sempre consulte seu sacerdote para garantir que não fará algo contrário ao que te manterá forte na espiritualidade. Não se trata de uma questão de ter que seguir ordens, e sim de se prevenir e evitar doenças, dores, alterações de humor e afastamento de oportunidades.
 O cuidado consciente com o corpo, não trás benefícios apenas para o desenvolvimento espiritual, mas também para a nossa vida em si. 



segunda-feira, 10 de julho de 2017

Pontos Cantados, Saudações e Danças na Umbanda


É de extrema importância que o médium de Umbanda tenha conhecimento das saudações das linhas e principalmente os pontos a serem cantados para cada uma.
Pontos são as cantigas ou músicas que acompanhadas dos toques de atabaque, energizam o terreiro e atraem os espíritos (entidades) aos seus médiuns, com intuito de criar radiação de incorporação e aumentar a força dos que já estão incorporados.
Diferente das casas que fazem os cultos de nação e do Candomblé, os pontos cantados na Umbanda são em português, falando geralmente de características, feitos ou qualidades da entidade ou do Orixá, para ajudar os que estão no trabalho a mentalizarem e trazerem este para perto de si no momento do culto.
Cada casa de Umbanda tem seus pontos para as mais diversas situações. Principalmente porque cada casa é regida por um Guia Chefe diferente, e geralmente é esse quem determina quais são os pontos que podem ou não ser cantados nos trabalhos.
O papel dos atabaquistas é trazer (por vezes até compondo), puxar os pontos e tocar o atabaque de acordo com o ritmo do mesmo. Cantando pontos que vão ajudar o trabalho de acordo com a necessidade do Pai de Santo ou do Guia Chefe que estiver liderando o momento.
Já o papel dos médiuns da sala é auxiliar os atabaquistas cantando e vibrando com palmas, para que a energia se espalhe por todos os presentes, formando assim a Gira.
Atabaquistas ou médiuns de sala, a obrigação de todos da casa é saber o ponto principal de cada linha (geralmente ponto do Guia Chefe), e cada ritual (abertura, defumação, bate cabeça, cura, chamada e despedida de entidades e Orixás, fechamento, batizado, amaci etc).
Antes de se iniciar algum ponto, é preciso preparar a vibração. E isso se faz com a saudação da linha ou ritual que irá se iniciar.
Geralmente a saudação segue o padrão de chamar o nome do que irá se fazer ou quem irá se chamar, seguido da palavra chave que caracteriza aquela linha ou ritual.
Por exemplo:
- Salve a Bahia (Quem puxa)
- Getruá Bahia (Os que seguem)
É importante quem for puxar um ponto em ter sempre em mente que a saudação é fundamental até por uma questão de puxar a atenção dos que devem seguir, e especialmente respeito a quem vai ser saudado.
A saudação, entretanto, não se faz necessária entre um ponto e outro. A menos que haja uma pausa no trabalho e a energia tenha que ser puxada novamente. Do contrário uma vez é suficiente.

Dentre as saudações na Umbanda (e no caso desse texto, especialmente no Templo de Umbanda Caboclo Flecheiro e Baiano Zé Pinga), temos as seguintes para cada linha, e seus respectivos significados quando se aplicarem: 

Orixás
ORIXÁ
SAUDAÇÃO
SIGNIFICADO
Oxalá
Oxalá Meu Pai
Admiração pela honrosa presença
Oxossi
Okê Arô
Salve o Grande Caçador
Oxum
Aie iê Oxum
Salve a Senhora da Bondade
Ogum
Ogunhê Meu Pai
Brado de quem tem força
Iemanjá
Odocyara
Amada Senhora das Águas
Xangô
Kaô Kabecile
Venham admirar o Rei
Iansã
Epa hey Oyá
Salve a mãe dos nove espaços de Orum
Nanã
Saluba Nanã
Salve Senhora Mãe de Todas as Mães
Obaluaê
Atotô
Silêncio, ELE está entre nós

Linhas de Entidades:
LINHA
SAUDAÇÃO
Caboclos
Okê Caboclo
Pretos Velhos
Adorei as Almas Santas
Ibejis (Cosme)
Oni Ibejada
Erês (Malandrinhos)
Aramim Erê
Ciganos
Salve o Povo do Oriente
Boiadeiro
Getruá Boiadeiro
Baianos
Getruá Bahia
Marinheiros
Salve a Marinha
Malandros
Saravá a Malandragem
Esquerda
Laroyê
Cangaceiros
Salve o Cangaço
Pajés
Zum Zum Pinguelim
Sereias
Salve Janaína
*Lembrando que essas são saudações feitas na nossa casa. A umbanda é repleta de diversidade, portanto é muito pretencioso falar que o diferente do seu é errado!

Ligado aos pontos e saudações, temos as danças características de cada Orixá. Que apesar de não serem tão regradas e ricas em detalhes nos movimentos como no Candomblé, são de extrema importância.
Isso porque a mistura dos três componentes: saudação-ponto-dança é a principal causa de atração dos Orixás e Entidades.
Ao nos mover cantar e saudar, nos condicionamos a mentalizar aquele que virá, e isso com certeza o trará com muito mais força.
É de praxe quando saudarmos um Orixá que rege a nossa coroa ou nos aproximarmos de uma entidade, cruzarmos o chão e nossos chacras. Esse gesto é uma ligação de saudação, ponto e movimento. Além de precioso respeito e amor aos que nos guiam.
Ao dançar para o Santo, não se deve ter outra coisa em mente a não ser os pedidos de luz, força e orientação. Seja para vida, ou para os trabalhos que se está prestes a conduzir ou auxiliar.
Por isso é de suma importância a participação de todo o corpo mediúnico na abertura, vibrando na mesma intensidade do início ao fim. Pois vai garantir que o trabalho tenha força e que as pessoas que dele participaram (incluindo você) sintam essa força.
Na impossibilidade de dançar, participe da vibração batendo palmas. O importante é colocar a sua força no ritual pois ela age em efeito boomerang. Vai vibrar nos demais, e retornar para você potencializada.
Por isso durante os trabalhos é muito importante buscar pensamentos bons, pois a nossa vibração vai emanar com a força desses pensamentos, e podemos quebrar uma corrente de força prejudicando a nós e a um irmão que esteja mais frágil naquele momento.
É muito importante lembrar que pensamentos bons atraem coisas boas, assim como os ruins não farão diferente... irão atrair energias ruins.
Portanto saúde, cante e dance buscando sempre o melhor, por mais difícil que a vida esteja. Pois esse é o segredo que vai trazer a melhoria para todos os males.
Salve a força, Saravá!
                                                        

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Cambonear


Cambone é aquele médium que não irá incorporar durante a gira. Irá zelar pelo bom atendimento, ajudar a dinamizar as consultas e facilitar o trabalho das entidades.
Pobres dos que se veem diminuídos por só cambonearem.
Cambonear (ou cambonar como é dito em alguns terreiros) é um ato divino que exige doação, atenção, carinho e zelo pela entidade e o médium que a incorpora.
Nenhum médium chega a grau evolutivo algum, se não tiver em sua bagagem muitas e muitas giras camboneando diferentes entidades de diferentes médiuns.
Conhecer a forma em que cada um trabalha, os procedimentos e materiais utilizados nos diferentes trabalhos e fundamentos da Umbanda, é parte essencial do processo doutrinário do médium, e consequentemente das entidades que um dia trabalharão nele.
É muito importante lembrar-se que se o médium não tiver noção nenhuma de como se faz um trabalho, a entidade pode até ter a força para executá-lo, mas por falta de doutrina, provavelmente vai errar em alguma coisa. E a base dessa doutrina é o ato de cambonear.
Não é à toa que dentro de um terreiro, as entidades dos médiuns da casa assumem características parecidas com as entidades do zelador. É um processo em cadeia que se espalha através do que se é observado no momento que camboneamos.
Isso porque a partir do momento que o médium veste a roupa de santo, salda seu congá e cruza suas guias, ele automaticamente aproxima sua corrente de entidades para o lado dele. Logo, tudo que ele ver ouvir ou sentir será visto, ouvido e sentido pela entidade. Estando ele incorporado ou não.
Tendo em vista todos esses fatores, mais o de que a entidade precisa de um cambone não só para auxiliar em servir, mas principalmente para dividir as energias, temos que acabar de vez com esse mito que brota na cabeça de médiuns (especialmente iniciantes), de que cambonear é um ato menos importante que incorporar.
Pois esse é o principal fator que faz com que médiuns mesmo sem radiação, queiram o momento de atenção deles na gira para fechar o olho e receber uma entidade que talvez naquele dia precise apenas observar o que está acontecendo do astral. Gerando em muitos a mistificação.
Tendo em vista os fatos citados acima, que tal aproveitarmos mais o tempo que temos de desenvolvimento, para aprender como realmente se trabalha incorporado através de cambonear?
A hora de todos trabalharem vai chegar, e quando chegar o que vai determinar se irão trabalhar bem e com segurança, será o que aprenderam camboneando antes de assumirem uma responsabilidade maior.



                       





Aos ser escalado ou se prontificar em cambonear uma entidade o médium deve se atentar a alguns fatores que na correria de uma gira, podem fazer toda diferença.
Dentre eles, os principais são:
v  Consultar o médium que vai cambonear para saber quais serão as entidades que ele trabalhará naquele dia, e quais são as coisas que cada uma utiliza
v  Separar com o médium cada uma dessas coisas de maneira que fique fácil alcança-las no momento em que forem solicitadas pela entidade
v  Ter sempre fósforo, papel e caneta a postos para cambonear
v  Procurar sempre cambonear pessoas diferentes em cada gira, mas estar 100% para aquele que escolheu naquele dia
v  Posicionar-se próximo a esse médium desde a abertura da gira, pois é possível que ao sentir radiação ele não terá tempo de avisar que vai incorporar
v  Esperar a entidade cumprimentar os quatro cantos da casa para abordá-la
v  Nunca tocar em nada da entidade se não tiver certeza que tem permissão. Ex: cocares de caboclos, só podem ser manuseados pelo médium, zelador e padrinhos
v  Jamais tratar a entidade como “você”, sempre como senhor, senhora, vós e pelo nome
v  Estar sempre atento aos itens como vela, cigarro, charuto, fumo de cachimbo, copos e bebidas
v  Naturalmente se preocupar se aquela entidade está precisando de algo, mesmo que seja apenas ter o seu rosto enxugado com uma toalha (que o médium deve ter para cada uma de suas entidades) por estar suando, ter as mãos limpas no caso de ter manuseado algo que suje, etc
v  Anotar qualquer recado que a entidade passe para o médium dela, pois possivelmente irá esquecer
v  Notificar o médium e o Pai de Santo caso a entidade reclame de ter faltado algo para ela na gira
v  Notificar o Pai de Santo caso a entidade tenha alguma atitude inadequada no decorrer da gira
v  Evitar ficar em cima da entidade enquanto ela atende alguém, lembre-se que o assunto do consulente pode ser constrangedor quando dividido com alguém além da entidade
v  Não dispersar nem ficar conversando enquanto a entidade atende alguém, pois ao cambonear, a sua energia e concentração dão forças para a entidade manter o médium dela firme ao voltar. Quanto mais ela tiver que trabalhar sozinha, mais o médium vai voltar baqueado
v  Preocupar-se e ter noção do espaço que a entidade vai ocupar na gira e enquanto faz suas afirmações. Não há problema nenhum, ao perceber que a entidade está bloqueando um caminho, em respeitosamente pedir para ela se posicionar em outro lugar da sala. O mesmo para quando ela quer acender uma vela em um lugar que não tenha visto que está ocupado ou vai bloquear uma passagem
v  Antes de levar um recado, pedido ou dúvida da entidade que você está camboneando para um guia chefe, ter certeza que não irá atrapalhar ele em uma consulta ou afirmação, somente abordá-lo se tiver certeza que ele não está trabalhando, pois ele não pode parar o que está fazendo. Salvo apenas em casos de pessoas passando mal ou com possível obsessor irradiando
v  Controlar rigorosamente a quantidade de bebida ingerida pela entidade. Leva-se anos de incorporação para que a entidade consiga ingerir uma garrafa inteira e o médium não volte com nenhum sinal de embriaguez. Na dúvida, sempre consultar um guia chefe ou pai pequeno
v  Não grudar na entidade nos momentos em que ela resolve dançar, isso pode causar acidentes e até deixar o guia nervoso. Mas ficar a postos pois se ela for embora abruptamente o médium precisará de você para apoiá-lo
v  Estar a postos para apoiar o médium ao retornar, passar todos os recados pertinentes à gira para ele, e auxiliá-lo ao guardar os itens das entidades que devem ser cuidadosamente tratados o tempo todo como sagrados

v  Por fim, nunca colocar a mão diretamente nos chacras da pessoa ao segurá-la, e chama-la pelo nome ao retornar da entidade, dando tempo para que ela volte a si, oferecendo-lhe água ou dando a toalha para que esta se seque caso esteja suando.